As cores dos sons do candomblé
Já parou para ouvir os sons do candomblé?
O colorido que encanta santos e adeptos.
A cor da alegria que toma conta da nossa fé..
Mas não apenas as cantigas, não apenas os atabaques em um xirê.. Digo em seu detalhe, a palma, o assovio de Osaniyn, o toque do agogo, o chacoalhar do xére, o zunido do atori rompendo o ar?
O candomblé é feito dos sons e da musicalidade de nossas rezas, rituais, animais, orôs, atabaques.
Dos sons de nosso canto, do grito em louvação.
Das folhas sendo maceradas e piladas para limpar nossas impurezas.
Do som do cantar do galo, quando desperta em alvorada às 5h da manhã.
É possível ouvir as folhas do Iroko se balançando ao vento, os murmúrios das rezas, a água correndo pelo corpo em um banho.
Dos sons surgem os sentidos mais aguçados, emanam a fé, o arrepio, aquele frio na barriga.
E de frio na barriga todo Yawo entende. Aquele medo misturado na ansiedade de se ver nascer.
O momento do despertar para uma nova vida.
A lenha queimando, enchendo de calor e esperança os nossos corações na fogueira de Xangô.
Da pipoca de Omolu que estoura em transformação, o bater dos chifres de Odé anunciando a fartura e os sons agudos dos metais se colidindo em prenúncio à guerra de Ogun.
Ah sim, sem esquecer os que contribuem e dedicam muito tempo para aprender e fazer com que os sons aconteçam.
Nas mãos calejadas dos Oloiyes e Ogans, é distribuída a força sobre o couro, fazendo pulsar em seu ritmo os corações dos filhos de axé.
E ao fundo dos atabaques, é possível escutar um Ilá, um brado entoado delicadamente pela chegada da energia ancestral. O orixá está em terra! Um som vivo então é emanado diante de todos os presentes em uma suma demonstração de força e respeito, relembrando aos presentes quanto a seriedade ritualística do nosso culto.
Muito embora o candomblé seja uma enorme festa em comemoração aos ancestrais, orixás, nkisis e voduns, não devemos esquecer daqueles que sofreram e lutaram com suas vidas para fazer perdurar a cultura e os ensinamentos sagrados. Portanto, o dia do Candomblé tem por objetivo louvar o sagrado e remeter à luta dos que não mais se fazem presentes.
Escutar não é ouvir. Ouvir é enxergar com o coração.
Seriedade com os nossos antepassados, com nossos irmãos, pais e mães. Não é de bom tom ser mal educado. Não é de bom tom rir, debochar ou cochichar nas casas de candomblé.
Todo som alheio à fé não é bem vindo.
Mais respeito pelo nosso culto, pela a história e amor dos que ali depositam a sua fé.
Por muitas vezes o silêncio responde a todos os nossos anseios e preenche o espaço vazio que se ocupa de nossa alma.
Encontrar a cor da alegria em cada detalhe da nossa religião é tornar viva a nossa espiritualidade.
Silêncio, respeito, amor e fé..
Okan Mimo!
Michelle D'Angelo
Omo Yemoja




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