Nkosi - O Nkisi e o Ancestral
Nkosi é visto como Nkondi, “Comedores de Almas”. Para os povos Cabinda, é uma energia que atua no mundo espiritual (Kupemba), que mata ou que faz mal aos bruxos e todas as pessoas que fazem ataques místicos. Tem ação medicinal quando alguém tem uma doença grave e suas ações são sempre no silêncio, na calmaria e de forma oculta.
Nkosi é um grande defensor das tribos e também o julgador de crimes cometidos contra o povo no qual defende.
O termo "Kosa" em kikongo significa: triturar, britar, esmagar, aniquilar, moer, reduzir a nada, que significa todas características e ações que este Nkisi possui quando invocado por um Nganga (sacerdote).
Nkosi (o Leão) e Ngo (o Leopardo) são dois animais que tem como símbolo o poder, a liderança e reinado entre os povos bantu, esses dois aspectos animais não são figuras místicas, mas sim política, econômico e social entre os bakongo.
Nkosi ‘a Kongo é a referência aos Reis do Kongo: Kinkosi e Ntu a Nkosi, que foram grandes líderes dos Clãs de descendência de Mpanzu, aqueles que dominavam a metalurgia e as lideranças nos tempos de guerra.
A arte da forja é um atributo considerado real e sagrado, fundamental para agricultura e medicina entre os bakongo.
No Candomblé Kongo/Angola
Nkosi no candomblé é chamado de Nkosi Mukumbi que deriva de Ankosi Nkumbu “Senhor de Fama”. Ele só se faz presente quando é chamado pelo seu nome de “fama”, e é tido como um guerreiro e guardião assim como na África bantu.
Nas terras brasileiras, ele tem a função de proteger o seu povo como um todo, em cada casa de candomblé, protegendo os seus e aqueles que adentram ao espaço sagrado.
Nkosi é autoconsciente, tem ações próprias e não necessita de invocação para isso, o que o faz sempre estar em transição entre o mundo espiritual (Kupemba) e o material (Kuseke). Como espírito, Nkosi não tem características de ferreiro ou forjador, essa ligação vem diretamente dos ancestrais de Mpanzu que vieram para o Brasil e eram especialistas em armas, guerras, agricultura, etc; associando ao espírito de Nkosi estes atributos.
Ao invocar Nkosi, fazemos a ligação com os Clãs de Mpanzu e também energizamos o espírito de Nkosi, o que apenas ocorre no Candomblé.
O Sincretismo
Nkosi(ancestral) é sincretizado com Ogum, divindade yorubá, isso teve início mais fortemente a partir dos anos 40. Ogum e Nkosi (ancestral) são semelhantes por suas ações, ambos são forjadores e percursores da Era do Metal, tanto para os povos yorubá quanto para os bantu.
Porém esse sincretismo não é com Nkisi Nkosi de origem Cabinda, mas sim com os ancestrais divinizados descendentes de Mpanzu, o primeiro ancestral místico do Kongo que deu origem ao clã dos forjadores, guerreiros e governantes .
O mais importante é entender que o sincretismo entre as nações ocorre até os dias atuais e seus adeptos tem que se conscientizar que cada divindade tem sua origem, ritos e liturgia, em cada espaço sagrado, seja Angola ou Ketu, tratando cada divindade e energia como única.
O fato de invocar Nkosi ou Ogum através do ferro não faz deles os mesmos, a energia elementar sim, é igual para qualquer povo da terra, mas a forma de ligar os ancestrais ao culto de cada etnia não tem os mesmos procedimentos ritualísticos .
O sincretismo existe e é importante, mas distinguir e valorizar as suas origens se faz necessário para compreender que em cada espaço sagrado Nkosi não é Ogum e Ogum não é Nkosi.
Texto de Glauber Willians e Leonardo Luis
Fontes:
Kongo Political Culture: The Conceptual Challenge of the Particular
Por Wyatt MacGaffey
The Kongo, Karl Edvard Laman · Studia ethnographica Upsaliensia. Author, Karl Edvard Laman. Published, 1950
Descrição histórica dos três reinos do Congo, Matamba e Angola, pelo Pe João António Cavazzi de Montecúccolo. Tradução, notas e índices pelo Pe Graciano Maria de Luguzzano. Introdução biobibliográfica por F. Leite de Faria.
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